V Centenário da Volta ao Mundo de Magallanes e Elcano: um dos primeiros exemplos da Globalização
Por incrível que pareça esta história é baseada em fatos reais: uma expedição de 5 navios e 256 homens, dos quais retornaram apenas 18, e que marcaram um antes e um depois na maneira de compreender o mundo.
Uma viagem de 3 longos anos que mostra a capacidade de resiliência do ser humano e sua ânsia de descobrir e aprender sobre o que nos rodeia; e isso nos ensina que não devemos desanimar com as barreiras e sim, seguir sempre em frente.
Esta é a história da primeira viagem ao redor do mundo.
Ano 1517. Naquela época, as duas grandes potências da Europa, o Reino de Portugal e o Império Espanhol, disputavam o domínio do comércio marítimo das Índias Orientais. Devido ao Tratado de Tordesilhas, os portugueses controlavam a rota oriental pela qual eles alcançavam as Índias através da África, mas os espanhóis não podiam acessar aquela rota.
Conhecedor da existência do Oceano Pacífico pela descoberta de Vasco Nuñez de Balboa em 1513, Fernão de Magalhães, marinheiro experiente de origem portuguesa, apresenta ao imperador Carlos I da Espanha um projeto ousado pelo qual pretendia descobrir uma nova rota para as Índias ao longo da Costa Americana. Este projeto desafiou a crença mais difundida da época, de que a Terra era plana, já que a viagem pretendia dar a volta ao mundo. Atraído pela iniciativa, o imperador espanhol concordou em financiar o projeto.
Após 2 anos de preparativos, em 20 de setembro de 1519, a expedição partiu. A primeira parte da viagem foi relativamente tranquila. A situação piorou quando entraram na foz do rio da Prata, na Argentina, pensando que havia a passagem para o Pacífico. Quando eles ficaram cientes de seu fracasso, os tripulantes começaram a se irritar pois estavam há muito tempo longe de casa, passando frio, com a comida cada vez mais escassa e parecia que aquela terra que haviam descoberto era interminável.
Após uns longos e difíceis meses, no dia 01 de novembro de 1520 a tripulação finalmente chega ao estreito que liga o Oceano Atlântico com o Pacífico. Devido às fortes correntes e à dificuldade de navegar entre as ilhas existentes na região, não o conseguiram atravessar até 27 de novembro. Magalhães decidiu chamá-lo de Estreito de Todos os Santos devido ao dia do descobrimento (embora depois permanecesse como Estreito de Magalhães). Naquela época, dos 5 navios apenas 3 continuavam a viagem, pois o quarto foi destruído na foz do rio Santa Cruz e o quinto, na ausência de provisões, decidiu retornar à Espanha.
Os 3 meses após cruzarem o Estreito foram um verdadeiro inferno. A expedição navegou pelo alto mar durante todo esse tempo, com a dificuldade de que, como não havia mapas minimamente precisos, não sabiam com certeza qual caminho seguir. A tripulação começou a ser dizimada por doenças como o escorbuto. Para não morrer de fome, eles chegaram a comer ratos, couro molhado, serragem e qualquer verme que encontrassem no navio.
Quando parecia que não sobreviveriam à terrível situação em que se encontravam, chegaram na ilha de Cebú, nas Filipinas. Ali fizeram boas relações com os nativos e decidiram ficar por um tempo para se recuperar da viagem.
Já recuperados e com mais forças para continuar, Magalhães decide atacar os inimigos da tribo dos Cebú, os Mactan. Nesta sangrenta batalha, Magalhães morre e é substituído por Juan Sebastián Elcano.
Finalmente, em 7 de novembro de 1521, eles chegaram às Ilhas Molucas e desembarcaram na ilha de Tidore (aonde tinham ouvido que era a ilha com mais especiarias). Lá eles estabeleceram acordos com os príncipes da ilha e começaram a negociar. Depois de carregarem com especiarias os 2 últimos navios que ainda restavam, descobriram uma avaria no navio Trinidad e decidiram deixá-lo na ilha para consertar, enquanto o último navio, o Vitória, continuava seu curso para a Espanha.
Devido às fortes correntes marinhas e de ar, que não facilitavam regressar a Espanha pelas Américas como planejado, Elcano tomou a decisão de chegar a Espanha em direção ao oeste, o que envolvia a violação do Tratado de Tordesilhas e a possibilidade de conflitos violentos com os portugueses; mas a ideia também lhe atraía por ser a primeira vez que aparecia a possibilidade de dar a volta ao mundo. Então, impulsionados pela aventura, decidiram correr o risco.
A viagem de volta foi muito angustiante, pois tiveram que evitar a costa asiática, atravessando a imensidão do Oceano Índico sem parar nas muitas ilhas existentes por causa do medo de encontrarem os portugueses. Por isso, a fome, a sede e as doenças foram penosos companheiros de viagem.
Finalmente, em 6 de setembro de 1522, uma tripulação dizimada pelo escorbuto e pela fome chegou ao porto de San Lúcar de Barrameda seguindo rio Guadalquivir até Sevilha. Dos 256 homens e 5 navios que partiram, apenas 18 homens e um navio retornaram. A remessa de condimentos que trouxeram rendeu os custos da expedição, além de obter uma soma enorme de benefícios para a época.
ALGUNS APRENDIZADOS PARA O MUNDO CORPORATIVO
Juan Sebastián Elcano e sua tripulação foram os primeiros homens que conseguiram dar a volta ao mundo em uma viagem cheia de aventuras, violência, riscos, fome e dificuldades. Foram eles os que confirmaram que o mundo não era plano e sim uma esfera, os que descobriram um novo mundo e novas rotas, assim como diversas culturas cuja existência parecia incrível. Todos estes fatos podemos afirmar que provocaram uma autêntica Revolução de Conhecimento na época.
De fato, poderíamos dizer que foi o primeiro grande exemplo de Globalização, no sentido que lhe damos hoje.
Indubitavelmente, impérios, como o de Roma, Pérsia ou mesmo o Espanhol, conquistaram ou colonizaram países e forjaram grandes impérios; mas sua ambição era impor sua autoridade e obter um benefício econômico. Ao contrário deles, essa grande travessia por 3 oceanos e exposição ao desconhecido, buscava impulsionar o comércio e fortalecer as interações comerciais, combater a concorrência (portuguesa, neste caso) e consolidar o poder econômico (pena que não tínhamos Twitter nessa época para transmitir ao vivo o que aconteceu com eles!).
Certamente, uma lição aprendida foi relativa à falta de visão sistêmica. Por causa da crença de muitos de que a Terra era plana, não se revelou para ninguém o verdadeiro propósito da travessia a fim de evitar motins e deserções. Nem sequer os capitães o conheciam.
E esta foi uma das falhas dos líderes desta expedição, porque em termos de gestão de pessoas uma das chaves é dar visão à equipe, de forma que desde o primeiro momento estejam todos comprometidos e sejam capazes de suportar inclusive as mais duras provas.
No extremo oposto, encontramos o grande exemplo de Shackleton, que publicou um anuncio (embora sua veracidade não seja garantida) buscando tripulação para sua expedição à Antártida, na qual prometia trabalho duro, baixo salário e poucas chances de retornar vivo.
Outra lição aprendida é o ímpeto e coragem destes navegadores espanhóis de ir além, assumindo riscos e com uma atitude de superar e alcançar os objetivos.
Embora pareça que não há nada por descobrir, a tecnologia e a Internet nos abrem um novo oceano onde podemos lutar e nos aventurar.
Fica uma clara conclusão: não é possível avançar sem uma dose muito importante de Visão e Liderança, Resiliência e Coragem para assumir riscos, Espírito Prático e uma poderosa Gestão das Relações.
Álvaro Ríos Agustí
Bibliografía:
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